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O Novo Testamento é Anti-Semita?

Steve Herzig

Durante os anos em que estive na Universidade, se alguém me perguntasse: "O Novo Testamento é anti-semita?", nem por um momento eu hesitaria em responder que sim.

No período de minha formação acadêmica, eu estava rodeado de pessoas que viam "aquele livro" como algo que possuía intenções malignas e perigosas. Até onde eu conseguia perceber, os judeus (o meu povo) passaram por muitos anos amargos de sofrimento que foram resultados diretos do conteúdo do que para mim era "a Bíblia gentia". É preciso destacar que, até então, eu nunca havia lido aquele livro. Na verdade, eu não conseguia sequer me imaginar tocando as suas páginas. Eu tinha certeza que termos humilhantes e odiosos como "assassinos de Cristo" e "filhos do demônio" provinham dele. Hoje em dia, muitas pessoas ainda têm essa percepção do Novo Testamento, e nem todos que pensam assim são judeus.

Muitos acreditam que o Novo Testamento ensina o seguinte:

Deus escolheu os judeus, mas eles foram desobedientes. Quando Deus lhes enviou os profetas, Israel os rejeitou e os matou. Esses profetas prometeram um Redentor, que seria o próprio Deus encarnado. Quando Jesus veio, os judeus O rejeitaram e O mataram. Depois disso, o templo dos judeus foi destruído e Deus os rejeitou. Então, Deus escolheu outro povo para substituir os judeus. Esse povo recebeu Jesus alegremente e, por isso, passará a eternidade na presença de Deus.

Sem dúvida, tal percepção motivou várias pessoas e nações gentias a oprimirem o povo judeu durante os últimos 2000 anos. O rabino Eliezar Berkovits disse: "O cristianismo do Novo Testamento é o maior tratado anti-semita da história".[1] Outro rabino afirmou: "Acredito que o Novo Testamento é um fator importante para a existência do anti-semitismo moderno".[2] Idéias similares também são defendidas por um grupo de "teólogos" que desejam eliminar do Novo Testamento o que eles acreditam ser porções antijudaicas. De acordo com um artigo escrito por Paul L. Maier na revistaChristianity Today:

Um grupo de eruditos que estava em busca de publicidade – conhecido como The Jesus Seminar – declara que todas as passagens dos Evangelhos que afirmam serem os judeus responsáveis, ao menos parcialmente, pela crucificação, não são autênticas e deveriam ser removidas do Novo Testamento.[3]

Maier prossegue:

Tal revisionismo histórico chegou a um novo extremo em uma conferência realizada em Oxford em setembro de 1989. Nessa ocasião, A. Roy Eckardt, professor emérito na Universidade Lehigh (Pensilvânia/EUA), sugeriu que os cristãos deveriam abandonar a idéia da ressurreição de Jesus, já que essa permanece sendo "uma fonte primordial e incessante do antijudaísmo por parte do mundo cristão".[4]

Jim Carrol, autor do best-seller Constantine’s Sword: The Church and the Jews [A Espada de Constantino: a Igreja e os Judeus], disse: "O cristianismo nunca se livrará da cultura e do pecado anti-semita a menos que suas Escrituras sejam entendidas pelos cristãos como documentos corrompidos pelas falhas humanas de seus autores".[5]

Não é difícil perceber como surgiu essa percepção. Mateus 23 registra o evento em que Jesus chamou os fariseus de "hipócritas", "guias cegos", "filhos dos que mataram os profetas", "serpentes", "víboras", e disse que eles não iriam "escapar da condenação do inferno".

Mateus 27.25 diz que a multidão dos judeus concordou em assumir a responsabilidade pela morte do Messias e que o sangue de Jesus deveria cair sobre eles e seus filhos. Em João 8.44, Jesus diz aos fariseus que o pai deles era o Diabo, descrito como "mentiroso" e "homicida desde o princípio".

Isso resulta numa idéia errônea, fazendo com que muitos aleguem que Jesus ensinou que todos os judeus são hipócritas, guias cegos, assassinos e mentirosos, e que Satanás é o pai deles. Essa percepção do ensino do Novo Testamento acabou incentivando uma postura altamente defensiva por parte da comunidade judaica.

À luz dessas idéias, não deve ser surpresa que em abril de 2001 um artigo publicado no The New York Times Magazine, falando sobre o time de basquete New York Knicks, criou uma grande confusão. "A Família Disfuncional dos Knicks", era o título da matéria escrita por Eric Konigsberg, um jornalista judeu que passou muito tempo com a equipe, tanto dentro quanto fora da quadra. Ele inclusive participou dos estudos bíblicos freqüentados por vários membros do time.

Em um desses estudos, Charlie Ward e Allan Houston, dois jogadores de destaque, debateram com Konigsberg sobre passagens específicas do Novo Testamento. Ward disse: "Os judeus são teimosos. Mas, diga-me uma coisa, por que eles iriam perseguir Jesus, a não ser que Ele soubesse de algo que eles não queriam aceitar? Eles [os judeus] tinham o sangue dEle em suas mãos".[6] Houston mostrou-lhe, então, a passagem de Mateus 26.67, que diz: "uns cuspiram-lhe no rosto [de Jesus] e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam".

Essa discussão, registrada no final da reportagem, causou um grande impacto quando foi divulgada. A reação negativa repercutiu muito além da cidade de Nova York. Na verdade, os jogadores receberam críticas de toda a imprensa americana. Foram numerosas as acusações contra eles. Ward e Houston foram chamados de "intolerantes", "racistas" e "pessoas cheias de ódio". Mas aqueles jogadores apenas usaram as palavras do Novo Testamento. Isso significa que seus acusadores estavam corretos? Aqueles jogadores de basquete eram anti-semitas?

Um judeu chamado Avi Lipkin insiste que o Novo Testamento não é anti-semita. Ele declarou:

Os judeus deveriam ler o Novo Testamento. Eu digo a todos os meus amigos judeus que eles deveriam ler o Novo Testamento e eles respondem: "Quem é você? Um membro doJews for Jesus?* Eu retruco: "Não, mas se você ler o Novo Testamento sozinho, irá descobrir o que os cristãos realmente crêem". A resposta que mais ouço é: "Por que deveríamos ler o Novo Testamento? Nós nem sequer lemos o Antigo Testamento".[7]

É importante entendermos que, independentemente de qual Testamento você leia, essa leitura deve ser feita usando a regra número um da interpretação:

Quando as palavras simples das Escrituras fazem sentido, não procure por um outro significado. Portanto, tome cada palavra em seu sentido primário, normal, literal, a menos que os fatos de seu contexto imediato, estudados à luz das passagens correlatas, assim como de verdades fundamentais e axiomáticas, claramente indiquem o contrário.[8]

O diretor da Escola de Educação Rhea Hirsh, da Faculdade Hebrew Union (em Los Angeles/EUA), disse: "É uma responsabilidade moral dos cristãos não permitir que as pessoas leiam esses textos sem considerar o seu contexto".[9]

O contexto exige que lembremos vários fatores que envolvem o Novo Testamento. O primeiro e mais importante é que seus autores, em sua vasta maioria, eram judeus. Essa "Bíblia gentia", na verdade, foi escrita por homens judeus para o seu próprio povo e a respeito dele. Seu conteúdo pode ser lido quase como se fosse a transcrição de um debate na Knesset (o Parlamento israelense). Como explica um escritor judeu: "Os debates acalorados na Knesset certamente não são antijudaicos, mas em qualquer lugar dos Estados Unidos eles seriam considerados palavras de provocação".[10]

Pense por alguns momentos sobre a semelhança desse modo de falar com o que o profeta Isaías disse ao seu povo no Antigo Testamento: "Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniqüidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o SENHOR, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás" (Is 1.4). Isaías era um judeu e estava se dirigindo (talvez aos berros) a seus irmãos judeus.

É importante destacar que o centro do Novo Testamento é Jesus Cristo, Yeshua Hamashiach. Ele nasceu de uma família judia, na cidade judia de Belém, celebrava todas as festas judaicas, adorava na sinagoga, lia publicamente o Torá (os cinco livros de Moisés), os profetas e os demais escritos. Ele também enfatizou o Reino de Deus e pregava sobre o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Além disso, Jesus criticava os líderes que estavam oprimindo Seu povo, os judeus. Para entendermos o contexto, também é importante lembrar que no primeiro século, quando o texto foi escrito, os judeus estavam debaixo do governo do Império Romano.

Se essas verdades não forem entendidas antes da leitura do texto, sua mensagem pode ser profundamente mal-interpretada. Veja a primeira linha do Novo Testamento, no Evangelho de Mateus: "Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão" (Mt 1.1). Para conhecer Jesus por completo, devemos entender Suas raízes judaicas. Lucas, o gentio, disse a seus leitores que Jesus foi circuncidado no oitavo dia (Lc 2.21). O apóstolo João, um judeu, afirmou que Jesus declarou Sua divindade na época do Chanucá (Jo 10.22-30). Atos 22.2-3 registra que Saulo (o apóstolo Paulo – um homem que hoje não é bem-visto pelos judeus), ao apresentar sua defesa diante do povo, falou em hebraico e relatou a sua rígida criação judaica ortodoxa. Quando Tiago escreveu sua epístola, ele se dirigiu às doze tribos que estavam dispersas pelo mundo.

Fica claro que o Novo Testamento está repleto de elementos judaicos em sua natureza e abrangência. Mesmo assim, existem em suas páginas várias porções que contêm uma "linguagem negativa". Ao mesmo tempo ele apresenta uma resposta positiva dos judeus à pessoa e à obra de Jesus como Messias. Por exemplo, muitas filhas de Israel "batiam no peito e o lamentavam [a Jesus]" (Lc 23.27). Atos 6.7 relata que "crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé". A igreja primitiva era totalmente formada de judeus, incluindo sacerdotes.

Quando entendemos o seu contexto, o Novo Testamento não ensina o ódio aos judeus. Pelo contrário, ele gera um sentimento de amor por eles. O reverendo Bruce McDonald explicou a questão da seguinte maneira:

Todas as nossas raízes são judaico-cristãs. Eu estou no ministério há 30 anos. Meus heróis são todos judeus: Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Elias, Moisés e, obviamente, o Senhor Jesus Cristo. Nós cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus e o que ela ensina é verdade... Seria um pecado terrível sermos anti-semitas. Isso iria contra a própria Palavra de Deus.[11]

Muitos anos atrás, um rabino jogou longe um exemplar do Novo Testamento quando apanhou um de seus colegas lendo o livro. No período em que o anti-semitismo tomou conta da sua terra natal, a Hungria, aquele rabino ficou surpreso ao constatar que, em nome do cristianismo, muitos homens se opuseram aos anti-semitas e defenderam o povo judeu. O rabino ficou muito impressionado. Por causa disso, ele próprio começou a ler o Novo Testamento e registrou assim a sua experiência:

Eu pensava que o Novo Testamento era algo impuro, uma fonte de orgulho, de grande egoísmo, de ódio, do pior tipo de violência. Mas quando o abri, senti-me encantado de uma maneira peculiar e maravilhosa. Uma glória repentina, uma luz se acendeu em minha alma. Eu procurava por espinhos mas só apanhava rosas. Descobri pérolas ao invés de pedregulhos; amor ao invés de ódio; perdão ao invés de vingança; liberdade ao invés de prisão; humildade ao invés de orgulho; conciliação ao invés de inimizade; vida, salvação, ressurreição e um tesouro celestial ao invés de morte.[12]

Minha percepção do Novo Testamento vinha do que as pessoas me diziam a respeito dele. Ela mudou rapidamente quando, pouco tempo após minha formatura, não apenas toquei pela primeira vez as páginas de um Novo Testamento, mas também as li. Descobri então que aquele livro goyishe(gentílico) era tão judeu quanto as minhas próprias Escrituras Sagradas. Os gentios que conheci e que levavam os seus ensinamentos a sério demonstravam um amor genuíno pelos judeus e pelo Messias judeu. Um deles, um grande cavalheiro cristão, diz o seguinte toda vez que se encontra com um judeu: "Que privilégio conhecê-lo. Sabe, um dia conheci um judeu que mudou a minha vida. Desde então, nunca mais fui o mesmo. Agradeço a Deus pelo povo judeu". Ele conheceu esse judeu no Novo Testamento. Seu nome é Jesus. (Israel My Glory)

Steve Herzig é diretor dos ministérios norte-americanos de "The Friends of Israel".

[*] Jews for Jesus [Judeus para Jesus] é uma organização missionária dedicada à evangelização de judeus.

Notas:

  1. Paul L. Maier, "Who Killed Jesus", Christianity Today[www.christianitytoday.com/ct/2000/134/42.0.html], 24 de agosto de 2000.
  2. Bem Birnbaum, "A Legacy of Blood", Moment Magazine, outubro de 2001, p. 88.
  3. Maier.
  4. Idem.
  5. Birnbaum, p. 50.
  6. Skip Bayless, "Context Factor in How to View Ward’s Words", Chicago Tribune, 25 de abril de 2001.
  7. "A Legacy of Hate: The Long War Against Israel", fita cassete 1 de 2, Family Tape Ministry, Spring Valley, Califórnia.
  8. David Cooper, The Messianic Series: The God of Israel, Biblical Research Society, Los Angeles, Califórnia, 1967, página 1.
  9. Birnbaum, p. 91.
  10. Idem, p. 55.
  11. Phil Jasner, "Chaplain Surprised by Knick Comments", Philadelphia Daily News, 23 de abril de 2001, p.2.
  12. Al Brickner, "The Jewishness of the New Testament" [www.yashanet.com/library/brickner.htm].

Fonte: Beth-Shalom